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Aplicativos: até agora, pouco eficientes no combate à pandemia

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Vários países e até mesmo empresas estão usando aplicativos de celular na luta contra o coronavírus. A ideia básica é identificar contatos do usuário com pessoas portadoras do vírus e então tomar providências, como isolamento e planejar ações globais.

Essa identificação de contatos é considerada fundamental para o sucesso do combate a qualquer pandemia – em recente evento promovido pela FAPESP especialistas recomendaram “investir pesadamente em estratégias de vigilância em saúde que possibilitem identificar e isolar rapidamente pessoas com sintomas da covid-19 e seus contatos próximos”.

O uso de aplicativos para esse fim não é novo. Em 2011 cientistas da Universidade de Cambridge criaram o FluPhone (GripeFone, em tradução livre) um aplicativo que rastreava a localização e proximidade entre pessoas para monitorar o avanço do vírus da gripe.
Governos, universidades e empresas de todos os portes, inclusive gigantes como Google, Huawei e Apple desenvolveram recentemente inúmeras ferramentas que tem esse objetivo. Todos pretendem juntar o maior volume possível de informações, como localização da pessoa, interações pessoais, uso de meios de transporte etc., para então analisá-las e recomendar providências.

No entanto, o uso dessa tecnologia no combate à atual pandemia, que trouxe grande esperança quando foi anunciado, parece não apresentar muito sucesso, por diversas razões. Dentre elas, preocupações com privacidade, uso indevido das informações coletadas, insuficiente precisão do GPS dos celulares para esse fim e má qualidade dos aplicativos, desenvolvidos às pressas.

Há divergências com relação a que proporção da população precisaria usar um aplicativo para que esse fosse eficaz: algumas fontes falam em 20%, outras em 40% e a Universidade de Oxford chega a 80%, o que mostra a inexistência de consensos sobre o tema. O interesse da população também não tem sido grande, pois alguns desses aplicativos não são de fácil utilização, exigindo, além do download, que os usuários se cadastrem, o que pode gerar erros e certamente desestimula seu uso. O uso de diferentes aplicativos também torna difícil a consolidação dos dados coletados.

Além dos problemas já apontados, outras críticas chegam: advogados alertam para os perigos de infrações à legislação, muitos médicos consideram-nos pouco úteis, e até mesmo Bill Gates criticou os aplicativos por apontarem falsos positivos e falsos negativos em excesso. Menciona-se também os riscos que uma falsa sensação de segurança pode trazer.

Por todos esses motivos, alguns governos já deixaram de usá-los. É bom registrar que não devemos confiar em nenhum aplicativo, por melhor que seja, para resolver esta crise. Os aplicativos de rastreamento de contatos não podem compensar a falta de adesão a medidas básicas como lavagem das mãos, distanciamento social e uso de máscaras, a escassez de equipamentos de proteção individual até mesmo em hospitais e a falta de testes rápidos, além da espantosa falta de educação dos cidadãos e de muitos governantes, que tem ficado evidentes ao minimizarem os perigos da pandemia ou transmitirem a ideia de que o pior já passou.

Vivaldo José Breternitz, doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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