A era digital vem impactando todos os setores da economia. Na saúde, as organizações ainda avançam a passos lentos na adoção de novas tecnologias, das quais são implementadas na área clínica e baixa adoção no que se refere ao paciente. Segundo Pesquisa realizada pela Accenture, apenas 23% dos hospitais contam com algum sistema de Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP).
Paralelamente a gestão interna ainda é burocratizada e as regulamentações engessam a inovação. Esse cenário envolve tanto o setor público quanto privado, onde ambos têm adotado soluções que inspirem os gestores a investir no paciente 4.0.
Do lado do paciente, ele está cada vez mais perito nos assuntos relacionados à sua saúde pela facilidade de acesso às informações na internet. Hoje, as redes sociais são utilizadas por 42% da população mundial, o brasileiro usa em média quatro horas do seu dia no celular, colocando o País no segundo lugar no ranking mundial dos países que mais utilizam o aparelho. E, embora a saúde movimente 2 trilhões de euros no mundo, apenas 2% são investidos em redes sociais.
"O perfil do paciente 4.0 é formado por mulheres entre 25 a 44 anos. Elas são economicamente ativas e vivem em grandes centros urbanos e o tipo de informação que buscam na internet é sobre especialidades de ginecologia, dermatologia e outras relacionadas à família. Isso impacta diretamente no relacionamento com os médicos, uma vez que já chegam no consultório entendidas daquilo que afeta a saúde", comenta Luis Gustavo Ferreira, head of Customer Success da Doctoralia no Brasil.
Nicolas Toth Junior, presidente da Sharecare Brasil, enxerga o cenário da saúde 4.0 distribuído em três pilares: longevidade da população atingida com hábitos ruins, gerando perda de qualidade de vida com alto custo no preço pago para tratar as doenças; alto custo da saúde; cronicidade, envolvendo fatores de riscos (hipertensão, obesidade, diabetes e excesso de peso).
O uso de novas tecnologias (big data, IoT, telemedicina e medicina personalizada) pode garantir grandes saltos na indústria da saúde. "Essas ferramentas permitem o monitoramento de pacientes e diagnósticos, unidades de emergência conectadas, tratamentos personalizados para cada indivíduo por meio do mapeamento genético, interoperabilidade, transferência de dados, armazenamento entre médicos, laboratórios e hospitais", observa Toth.
No entanto, Guilherme Rabelo, da gerência Comercial e Inteligência do mercado – InovaInCor – InCor / Fundação Zerbini, alerta sobre uma profunda análise do que realmente faz sentido no tempo certo para os negócios do setor, sem que a implantação de projetos não produza resultados esperados pelos gestores e para a sociedade. "A saúde não precisa de sistemas mais inteligentes e menos complexos. Isso mal feito pode criar a tempestade perfeita. Por isso, a inovação deve necessariamente atender aos anseios do mercado".
Fábio Carvalho, CIO do Hospital Adventista de São Paulo, reforça a opinião de Rabelo lembrando sobre a necessidade de haver mais interoperabilidade entre os sistemas e a garantia da segurança. "A IoT pode ser um fator altamente de risco caso um equipamento seja invadido por hacker numa unidade de terapia intensiva, alterando os dados prescritos nas máquinas e gerando um diagnóstico equivocado", diz Carvalho quando lembra da recente notícia sobre a falha de segurança em equipamento de marca-passo sob o controle de hackers.
A visão é adotar as novas tecnologias na gestão e área clínica, bem como proporcionar a personalização do paciente de forma assertiva. No Hospital Adventista, Carvalho implementou um chatbot no atendimento ao cliente com o uso de WhatsApp, onde o atendimento é feito por robôs. Dessa forma, foi possível atender de forma mais ágil a diversos tipos de pedidos como segunda via de boleto, agendamento de consulta, etc.
Da mesma forma, pequenas iniciativas com resultados expressivos, foram adotadas no setor público com o intuito de avançar para iniciativas mais robustas. Joel Formiga, chefe da PRODAM, exemplifica o aplicativo Agenda Fácil, que pode ser acessado pelo celular ou desktop, onde o primeiro cadastro é feito fisicamente em uma UBS.
Simples e eficiente, o sistema usou a base de dados do Siga Saúde e garante a marcação ou desmarcação de consultas, onde o usuário tem a visão das datas disponíveis, evitando filas de espera. Além disso, o aplicativo permitiu a agilidade no atendimento nas unidades, reaproveitamento de vagas de última hora, redução do absenteísmo, atualização cadastral do cidadão, mais praticidade e menos deslocamento.
Atualmente, o aplicativo conta com 600 mil usuários ativos, 400 mil downloads por dia, 5 a 10 mil transações ao dia. "A transformação digital não é a que você quer, mas da base de sistemas e recursos que você possui", aponta Formiga, quando lembra que o resultado do aplicativo impactou positivamente para sensibilizar a gestão pública a criar projetos maiores que consolidem a história clínica digital.