Mulher em Tech, sim. Por que não?

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Estamos chegando ao fim do Mês da Mulher, e, enquanto CIO de uma grande empresa, acho importante refletir sobre o papel feminino no universo da tecnologia. Me lembro que, por muitas vezes, ao entrar em fóruns de lideranças do setor, fiquei impactada com a disparidade quanto à quantidade de rostos masculinos, com raras exceções de figuras femininas. Essa realidade, infelizmente, ainda é bastante frequente e, por isso, no intuito de promover um despertar, sempre questiono "quantas mulheres estarão presentes?" quando recebo convites para participar de eventos do setor.

Homens (e até mesmo algumas mulheres) podem contestar dizendo que não existe problema algum com essa discrepância, afinal, cada um escolhe a carreira que mais lhe agrada. Eu mesma pensava assim há muitos anos atrás, no início de minha carreira, até perceber que isso é muito maior do que apenas uma questão individual. 

Em um relatório de diversidade divulgado pela Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais, a Brasscom, no primeiro semestre de 2024, é possível vermos que as mulheres ocupam cerca de 39% dos postos de trabalho em TIC. Este número cai para 28% quando consideramos cargos de diretoria e gerência. 

E por que ainda existe essa desigualdade? Penso que há muitas hipóteses, mas uma das que mais acredito é que as mulheres estão em menor quantidade na área de tecnologia, não necessariamente por falta de afinidade, mas por não acreditarem que este universo também é para elas. Historicamente, as áreas mais voltadas às exatas costumam engajar mais o público masculino, mas a falta de equidade de gênero em TI também não inspira uma mudança nesse paradigma. 

Outro ponto a se esclarecer é que a área de tecnologia não se resume à programação ou à manutenção de equipamentos. Na realidade existe uma vasta variedade de "carreiras" dentro da tecnologia que vão desde atividades mais técnicas até outras voltadas para mapeamento de processos e negócios. A cadeira de executiva em tecnologia me demanda muito mais conhecimentos acerca de gestão de pessoas, planejamento e estratégia de negócios, do que necessariamente o olhar técnico. De modo geral, as pessoas de tecnologia trabalham resolvendo problemas: algo que a maioria das mulheres é ótima em fazer. Foi em nome dessa facilidade que, ainda na adolescência, desbravei o universo da "informática" programando Basic I em um MSX Hotbit, e, aos 17 anos, entrei na faculdade de Engenharia de Computação para buscar o sonho de me tornar uma executiva da área. 

Mesmo sendo uma das poucas mulheres em uma turma de quase 50 homens durante os anos de universidade, não me sentia acanhada. Me graduei com louvor e busquei oportunidades em grandes e renomadas empresas, onde iniciei a minha formação mais técnica e construí minha trajetória. Ao longo dos anos, no entanto, percebi que quanto mais alto o cargo, mais solitária é a jornada da mulher. Ao liderar equipes, pude compreender perfeitamente os desafios das mulheres ao trilharem uma carreira na tecnologia: a falta de acolhimento, a disparidade salarial e a dificuldade em buscar reconhecimento.

Além disso, muitas mulheres se dividem entre jornadas profissionais e familiares. A minha ambição "extraprofissional", sempre foi constituir uma família. Me casei e me tornei mãe em meio ao meu crescimento como executiva. Assim como eu, muitas mulheres com quem já trabalhei e na minha equipe também são mães, esposas, filhas. Por isso, sempre reforço que, no dia a dia, as mulheres devem procurar se ajudar e criar uma rede de apoio para quando precisamos nos ausentar por emergências ou necessidades pessoais. 

Essa perspectiva foi o que me levou a escolher a Espaçolaser para escrever mais um capítulo da minha jornada profissional, uma vez que a empresa conta com um quadro feminino bastante representativo, com 92% das posições de liderança na companhia sendo ocupadas por mulheres; e três das cinco cadeiras C-Level são femininas. Além disso, o ambiente acolhedor é um dos maiores diferenciais. Por isso, sugiro para mulheres que ainda trabalham em ambientes majoritariamente masculinos, que busquem uma aliada ou mesmo um aliado, construam pontes, fortaleçam a sua rede. Contratem mulheres, promovam mulheres. 

Temos que desmistificar a ideia de que a tecnologia é exclusiva para gênios da área de exatas e começar a abrir espaço para diferentes habilidades e talentos, que podem ir de gestão e planejamento ao design e marketing digital. Este Mês da Mulher nos lembra que a tecnologia precisa de mais do que celebrações simbólicas, exige atitude. Faço parte de uma associação sem fins lucrativos, a MCIO Brasil, cujo propósito é aumentar a representatividade feminina no setor. A associação apoia a capacitação, entrada, recolocação e a ascensão de mulheres no mercado por meio de treinamentos, mentoria, eventos e muita troca de experiências. A escolha é nossa: continuar impactadas pela desigualdade de gênero ou nos unir para sermos agentes de mudança. Conto com todos vocês, mulheres e homens, para construirmos um futuro mais igualitário e inspirador para as próximas gerações.

Daniela Komatsu, CIO da Espaçolaser.

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