A jornada de hoje começa em um tempo bastante remoto e um lugar distante: a Grécia Antiga, onde iremos conhecer um pouco das ideias de um filósofo intrigante e desafiador: Sócrates. Com as ferramentas da filosofia socrática, vamos olhar para os nossos desafios na hora de fazer negócios e criar soluções na atualidade. Relaxe um pouco, afrouxe os cintos e boa viagem!
Um arquipélago de filósofos e ideias
Prepare-se para uma breve e empolgante viagem no espaço e no tempo. Vamos voltar ao ano aproximado de 470 A.C, para um dos mais famosos locais da Grécia Antiga, a cidade-estado de Atenas, considerada um dos berços da civilização e da cultura ocidental. Lá encontraremos Sócrates, um dos pais da moderna filosofia, debatendo sobre as mais diversas questões éticas e existenciais: "De onde viemos?", "Como devemos fazer para bem viver?", "O que é ética e justiça?". São questões complexas e interessantes, mas que, infelizmente, terão que ser discutidas em outra oportunidade. Voltando à nossa jornada, o objetivo agora é entender o método que Sócrates utilizava para construir e fortalecer suas ideias e hipóteses. Então vamos lá!
A máxima de Sócrates – "Só sei, que nada sei", muitas vezes é interpretada de maneira extremamente simplista, o que leva a erros. Sócrates não queria dizer que não possuía conhecimento nenhum. Ao contrário, por meio dessa máxima, ele professava que a humildade é a única forma pela qual se pode buscar o conhecimento. Ou seja, a partir do momento em que ideias são vistas como absolutas e incontestáveis, passamos a nos distanciar do caminho que leva para a verdade, muitas vezes cegados pelo orgulho.
Ok, mas o que é o tal do método socrático então? Pois bem, o método é extremamente simples e poderoso ao mesmo tempo: consiste em partir de uma ideia ou hipótese e fazer perguntas até se chegar a algum absurdo. Desta forma, é possível invalidar uma hipótese ou perceber onde estão suas fraquezas, para reforçá-la e ressubemetê-la ao processo. Este simples método, quando aplicado com sinceridade, nos permite refletir profundamente e de forma quase infinita sobre a mais variada gama de ideias e conhecimentos. Mas use-o com cautela…
Bem, Sócrates não foi muito cauteloso, estava preocupado em buscar a verdade e não em agradar pessoas. Por aí já dá para entender porque despertou a ira de vários conterrâneos, resultando no processo que culminou na sua condenação à morte por envenenamento. Homens matam homens, mas o conhecimento prevalece, tanto que as ideias de Sócrates chegaram até nossos dias, apesar dele não ter deixado nenhum registro escrito próprio. Se quiser saber um pouco mais sobre a interessante história desse grego, dê uma olhada neste link.
A busca pela fonte da INOVAÇÃO
Hoje vivemos em um tempo bastante diferente. Mudaram as roupas, os hábitos, a cultura, a política, enfim, tudo mudou na nossa sociedade e na forma como vivemos. Ao longo destes mais de 2000 anos que nos separam de Sócrates e sua Grécia Antiga, a humanidade desenvolveu um ferramental cada vez mais sofisticado para suportar a execução de suas mais simples atividades. Palavras complicadas para dizer que evoluímos bastante em termos de tecnologia. No entanto, apesar de toda evolução, ainda temos problemas e pontos onde enxergamos oportunidades de implementar melhorias nas tecnologias, processos e ferramentas do nosso dia a dia.
Voltando ao assunto principal, creio que podemos dividir essa evolução da seguinte forma: geração, desenvolvimento e otimização de ferramentas e conhecimentos. Em primeiro lugar, o homem começou a questionar-se sobre tudo o que via no mundo. E seguiu fazendo as descobertas que fundaram e expandiram as ciências. Depois, impulsionado por uma economia com necessidades e possibilidades diferentes, viu-se criando e melhorando seus meios de produção com velocidade surpreendente. Um bom exemplo disso são a primeira e a segunda Revolução Industrial (clique aqui saber mais sobre o assunto). Hoje vivemos a terceira etapa, onde já elevamos nossos conhecimentos a um nível bastante satisfatório e temos uma gama enorme de ferramentas a nossa disposição. Ou seja, o maior desafio hoje não é fazer a ciência dar um salto ou desenvolver a nova máquina a vapor, mas só para manter a analogia, descobrir como usar os saberes das ciências para melhor usufruir dessa máquina.
Opa! E isto tem cara de algo que já conhecemos bem e ouvimos falar cada vez mais…INOVAÇÃO! Não é à toa que a palavra inovação é ouvida com cada vez mais frequência. Inovar é também criar conceitos e coisas completamente disruptivas, mas isso é muito mais exceção do que regra. A inovação mais provável que vemos no dia a dia e pode ser praticada em maior escala, é aquela que cria novas formas a partir do que já existe. A tecnologia é um bom exemplo disso. Podemos encontrar nos vários recursos tecnológicos, processos antigos revistados. E-mails versus cartas e memorandos. GPS versus bússola e astrolábio. Fotografia digital versus fotografia de filme. Não faltam exemplos de processos que já existiam, mas reinventados criativamente a partir de novos conhecimentos, tornaram-se tecnologias novíssimas e verdadeiras minas de ouro.
Para finalizar esse ponto, estamos no pico de uma nova revolução tecnológica, a Revolução da Informação. Similar às outras revoluções industriais que a humanidade assistiu, vemos tecnologias mudando de forma drástica o modo como produzimos, transportamos, consumimos e etc. Mas com uma diferença: nas outras revoluções, a informação era usada como insumo para melhorar os meios de produção, ao passo que os meios de produção melhoravam os processos na ponta. Agora é diferente. A informação atua sobre si mesma e sobre os processos, melhorando-os diretamente e com uma velocidade e escala bem maior. Olhe para as fábricas automatizadas, os processos de logística e transporte calculados em tempo real, casamento de curva de demanda/produção com enorme precisão e etc.
Mas o que Sócrates faria hoje?
Bem, no começo prometi que as coisas iriam convergir, por isso entrego para vocês agora a minha conclusão. O caminho que nossos ancestrais e nós percorremos até chegar ao nível de desenvolvimento e conhecimento que temos hoje, foi extraordinário e extremamente difícil. Isso, por um lado, nos torna muito fortes e preparados, mas, por outro, pode levar ao reforço de paradigmas, fazer com que ideias sejam cada vez mais difíceis de serem questionadas. Tendemos a respeitar a imutabilidade dos conceitos mais do que deveríamos, fazendo as coisas "no automático". Lembram-se do grego? Deixamos de questionar as nossas ideias para fortalecê-las.
Como temos processos, conceitos e teorias cada vez mais complexos, formados pela soma de várias outras partes menores, quando precisamos detectar um problema ou ponto de melhoria, a tarefa nos parece impossível. E assim podemos viver na eterna busca pela lendária inovação, mas temos pouquíssima ideia de onde e como procurá-la. Ou então, podemos usar o método de Sócrates com um viés diferente: questionar, descendo a fundo nas situações que criam problemas ou geram necessidades, de modo a descobrir o que podemos mudar, fazer diferente e melhorar.
Depois, basta procurar o melhor método para gerar aquela mudança, aplicá-lo e voilá, temos uma solução inovadora para um problema comum. Aliás, o artigo "A inovação tem um método?", fala sobre o design thinking: um método prático e extremamente divertido para catalisar o surgimento de ideias e soluções inovadoras para problemas de qualquer nível de complexidade. Claro que escrever é bem mais simples do que fazer, diriam alguns. Mas ainda assim, não tira o brilho da ideia. Bom, para resumir, gerar inovação é: ter disciplina para adquirir conhecimentos, coragem para fazer perguntas e atitude para implementar mudanças. Você concorda? Discorda? Tem sugestões ou gostaria de dividir alguma história sua? Escreva aqui nos comentários!
Alexandre Kulpel, executivo de Negócios da UNEAR.