O CPqD, em palestra realizada durante a Futurecom, que acontece esta semana em Florianópolis, expôs para os operadores de telecomunicações alguns dos pontos em que, segundo os levantamentos iniciais do instituto, será possível a participação das teles no cenário da TV digital aberta. Segundo Ricardo Benetton, diretor de TV digital do centro de pesquisas, é possível prever, diante dos modelos de negócio possíveis, que empresas de telecomunicação participem da TV digital primeiro como empacotadoras e gerenciadoras de conteúdos digitais, que serão necessários às transmissões abertas. É o papel que, de certa forma, as operadoras de cabo (que são empresas de telecomunicações) desempenham no mercado de TV por assinatura.
Outro papel que o CPqD acredita que as teles possam desempenhar é na oferta de acesso de canais para interatividade dos serviços que serão agregados à TV digital aberta. Além disso, disse Benetton, o possível papel de operador de redes se ajusta bem à experiência das empresas de telecomunicações. Explica-se: no cenário da TV digital aberta, é provável que os radiodifusores não tenham condições econômicas de promover todos os investimentos necessários para a digitalização de suas redes, de forma que se abre a chance de parcerias nesse segmento. Sobretudo quando se pensa em transmissões móveis de sinais de TV. Neste caso, as complicações técnicas são ainda maiores, proporcionais às necessidades de investimento em redes que poderiam ser feitos por terceiros.
Benetton explica que as empresas de televisão podem optar por digitalizar, expandir e gerenciar suas próprias redes, mas lembra que isso pode não ser o mais interessante do ponto de vista econômico. "Aí vejo a possibilidade de um operador de rede, e as empresas de telecomunicações sabem fazer isso".
Uma empresa móvel, por exemplo, teria também uma faixa de freqüências voltada à radiodifusão digital móvel e "alugaria" espaço para as emissoras, caso as TVs não tenham redes próprias. Esse é um debate que está por trás, inclusive, da disputa pelo padrão que o Brasil adotará.
As emissoras querem que o País escolha o ISDB-T, padrão japonês que prevê transmissões digitais móveis dentro do próprio canal que a emissora terá para as transmissões fixas. No modelo como o da tecnologia DVB (europeu) é preciso uma faixa móvel separada do canal de transmissão principal, o que abre espaço para uma licitação de rede apenas para esse serviço. Na visão do CPqD, o governo poderia entrar como indutor dessa atuação complementar entre teles e empresas de radiodifusão.
Pesquisa
O CPqD apresentou também dados das pesquisas feitas com os usuários sobre as possíveis vantagens no ambiente da TV digital que mais se destacam na preferência dos usuários. A TV digital móvel, por exemplo, aparece, na média, com uma percepção de importância para apenas 27% da população. Segundo Benetton, mesmo sendo o último lugar de uma longa lista de atributos da TV digital, isso não é ruim, considerando-se que é uma tecnologia muito nova e que poucos compreendem.
Os dez possíveis atributos da TV digital aberta que mais se destacam entre o interesse das pessoas pesquisadas são, na ordem: imagens mais nítidas (82%), imagem sem chuviscos ou fantasmas (80%), manutenção dos canais atuais (74%), melhor som (71%), canais com informações (70%), gravação digital (57%), possibilidade de canais governamentais (55%), maior número de canais (55%), internet na TV (49%) e informações sobre a programação (44%).
Outro aspecto interessante é que, de acordo com a pesquisa feita pelo CPqD, a percepção de custos das pessoas sobre a TV digital não permite pensar em um dispositivo que custe mais do que R$ 700. Acima disto, o mercado seria extremamente limitado. O ideal, segundo a pesquisa de percepção de valores feitas pelo centro de pesquisas, é que o equipamento de TV digital fique na casa dos R$ 400 ou menos, e de preferência parcelado em oito veze. Benetton disse que nesse momento já se discute as vantagens e riscos de cada um dos modelos de exploração possíveis de serem adotados no Brasil.