O ano de 2018 marca o 20º aniversário da VMWare, empresa que por meio da virtualização iniciou o movimento de transformação da maneira como os datacenters operam atualmente. Durante o VMWorld 2018, em uma retrospectiva destas duas últimas décadas, Pat Gelsinger (CEO da VMWare) recordou a trajetória da empresa em 4 grandes atos e revelou qual será o próximo grande passo da empresa. Este texto é baseado nos anúncios e temas tratados durante o primeiro dia do evento, que aconteceu nessa segunda-feira,27.
O primeiro ato: No início dos anos 2000, CIOs e gestores de infraestrutura viviam o dilema de ter que escolher entre um fornecedor de hardware ou outro e, feita a escolha, o processo de migração e upgrades para outras marcas eram mais complicados. Em meio a essa guerra entre Dell, IBM, HP e outros, a VMWare posicionou-se como a solução para essa complexidade e gerenciamento dos sistemas por meio de suas ferramentas se virtualização (ESX) e gerenciamento (vCenter), desvinculando as camadas de hardware e de software, permitindo uma gestão, implementação (“deployment”) e upgrade de servidores de forma mais simplificada, além de promover a forte redução de custos com as máquinas físicas como resultado da virtualização. Logo depois Microsoft, Citrix e outras seguiram nessa mesma trajetória, lançando suas próprias ferramentas.
O segundo ato: Com a popularização dos smartphones, a volta da Apple ao mercado corporativo e a demanda dos executivos pela liberdade de escolha de seus equipamentos, a vida dos CIOs tornou-se mais complicada, dessa vez, com desafios relacionados ao conceito de BYOD (ou “Bring your own Device”). Em resposta, a VMWare lançou o Workspace One, software capaz de gerenciar usuários, políticas de segurança e entregar aplicações em diferentes tipos de dispositivo e sistemas, também de forma mais simplificada seguindo os conceitos de virtualização.
O terceiro ato: Na medida em que o uso das redes corporativas se intensifica devido à maior utilização da internet e redes wi-fi e, em conjunção com a maior adoção de sistemas virtualizados (em especial servidores e armazenamento) a VMWare lança sua solução de gestão e virtualização de redes, a plataforma NSX, com objetivo de desobstruir gargalos de comunicação e performance que impediam o crescimento destes ambientes. O objetivo do NSX também foi o de facilitar (simplificar) a gestão de diferentes hardwares de rede, assim como fez com servidores.
O quarto ato: Tendo os ambientes virtualizados se tornado populares nas organizações e a adoção de nuvens privadas e públicas em ascenção, a VMWare volta seu foco para o lançamento de ferramentas de gestão da operação de datacenters, a fim de simplificar a migração e operação de máquinas virtuais, estando elas no ambiente privado ou público. Vale lembrar que há cerca de 2 anos (2016) a VMWare anunciou uma forte parceria com a Amazon AWS a fim de construir uma plataforma integrada de nuvem híbrida.
O próximo grande ato: A complexidade tende a explodir nos ambientes Multi Nuvem (“Multi Cloud”). Pesquisas da própria VMWare revelam que grandes empresas já possuem atualmente entre 8 e 10 provedores diferentes de serviços de nuvem e este volume irá crescer rapidamente. De olho neste cenário, a VMWare anunciou a aquisição da CloudHealth Technologies, uma plataforma de gestão de operações na nuvem já integrada com AWS, Microsoft Azure e Google Cloud e que ajuda principalmente na gestão custos, segurança e performance de aplicações. A VMWare tende agora a voltar seus esforços para consolidar-se como a principal escolha de plataforma para gerenciamento e controle de multi nuvens, visando oferecer aos clientes uma forma mais consistente e centralizada para a governança e segurança de seus ambientes de TI (estejam eles no datacenter interno, na nuvem, ou mesmo “na ponta”, ou no “edge”). Na visão de José Duarte, presidente da VMWare no Brasil, boa parte das empresas no país ainda tem um baixo nível de maturidade no que se refere a gestão de ambientes de nuvem e os problemas vem aumentando. “Não é só mais questão de como eu controlo, mas como eu governo a infraestrutura de TI respeitando políticas de segurança, compliance e custo de forma integrada e tendo a opção de ir e voltar da nuvem pública como e quando eu quiser” afirma.
Outras novidades relevantes anunciadas durante o primeiro dia de evento:
O grande anúncio realizado durante o evento foi o lançamento da “Amazon RDS on VMWare” (ou Amazon Relational Database Services on VMWare), um serviço que permitirá aos usuários de VMWare criarem e gerenciarem bancos de dados em um Datacenter privado ou na nuvem pública da Amazon, em uma mesma console, tornando a replicação, cópia e crescimento das bases mais simples e automatizada. Nos próximos meses, o Amazon RDS on VMware irá suportar os bancos de dados Microsoft SQL Server, Oracle, PostgreSQL, MySQL e MariaDB. Embora já possa ser acessado a partir do Brasil, a disponibilidade local do serviço em si deve ocorrer apenas na segunda metade de 2019.
A VMWare também anunciou maior foco no aspecto segurança, tendo lançado a oferta do vSphere Platinum, com a ferramenta AppDefense integrada nativamente à plataforma. Dessa forma, o sistema poderá (por meio de Machine Learning e I.A) aprender o comportamento de cada uma das máquinas virtuais e apontar quaisquer desvios do comportamento, que podem ser indícios de tentativa de invasão ou risco de ataque. Integrando-se com a plataforma NSX (de gerenciamento de redes), essas políticas podem ser expandidas também para a rede.
Outra novidade é o breve lançamento do ESXi para plataformas (processadores) ARM de 64 bits, a fim de permitir que os benefícios da virtualização possam ser alavancados também nos ambientes de IoT. A VMWare vê oportunidades para trabalhar com OEMs nessa área.
Por fim, o “Projeto Magna” que, em consonância com o próximo ato da VMWare de dar maior foco em gestão multi nuvem integrará de forma mais eficiente e sob um mesmo console de de gerenciamento e segurança as operações entre diferentes nuvens em datacenters centrais, com nuvens secundárias “nas pontas” (ou “Edge Computing”) e as nuvens públicas. O projeto pretende desenvolver uma tecnologia capaz de habilitar um “self-driving data center” (ou Datacenter auto gerenciado) baseado em Machine Learning e Inteligência Artificial para atingir maior eficiência. O sistema aprende o comportamento das máquinas virtuais e aplicações e configura o Datacenter para atuar da maneira mais otimizada possível em todos (e com todos) os ambientes de nuvem do cliente, interno, nas nuvens públicas, ou na ponta.
(Parte 1 de 2)
Reinaldo Roveri, analista de Mercado Independente, sócio da Stratica.