Um estudo publicado na segunda-feira, 29, afirma que o Google manipula resultados de buscas para favorecer os próprios serviços, em detrimento dos consumidores. O relatório, realizado por pesquisadores das universidades de Harvard e Colúmbia, foi encomendado pelo site de recomendações online Yelp e sua divulgação cai como uma bomba para o gigante das buscas, que nesta semana terá de apresentar sua defesa à Comissão Europeia das acusações de que pratica concorrência desleal.
Há anos o Yelp trava uma batalha com o Google. Em 2011, a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês) iniciou uma investigação contra o Google, após o site de recomendações acusar a empresa de exibir as resenhas e avaliações do serviço nos resultados de busca como se fossem suas, sem direcionar o usuário para o seu site, o que fazia a empresa perder audiência. A acusação do Yelp teria levado o Google a barrar, posteriormente, a empresa nos resultados de busca. Mas, em 2013, a FTC estabeleceu que a companhia não poderia bloquear sites especializados como o Yelp.
O estudo, que se baseia em dados do Yelp, mostra que o Google favorece nos resultados de sua ferramenta de buscas seu próprio serviço de comparação de preços, o "GoogleShopping", em detrimento dos mesmos serviços oferecidos por seus concorrentes. Ao fazer uma busca no Google, o usuário pode encontrar avaliações sobre um estabelecimento ou a indicação de onde encontrar determinado serviço em um espaço no topo da página chamado de Onebox. O Google nega que nesses resultados privilegie informações de serviços próprios.
O Yelp, porém, diz que o estudo mostra que isso não é verdade. Os pesquisadores apresentaram a 2.690 usuários de internet duas versões do Google. Uma versão mostrou resultados de buscas para empresas locais, como os usuários normalmente os veem, com links para as empresas, juntamente com classificações como postadas em um site do Google. A outra versão recriou as buscas feitas pelo o algoritmo do Google sem privilegiar os resultados de produtos da empresa, mostrando links para empresas, juntamente com as classificações de sites de rivais como o Yelp.
A pesquisa mostrou que em 45% dos casos os usuários tendem a clicar nos resultados exibidos no OneBox, que aparece no topo do site, em vez de descer pela página para visualizar outros resultados. A conclusão é que o Google induz o usuário a escolher serviços que nem sempre são os melhores.
Mudança de opinião
O estudo foi assinado por Tim Wu, um renomado advogado, professor da Universidade Colúmbia e ex-conselheiro da Comissão de Comércio dos Estados Unidos, órgão responsável por regular o setor naquele país. No passado, Wu, que cunhou o termo "neutralidade de rede", já deu pareceres favoráveis ao Google, afirmando que o buscador apresentava os melhores resultados aos usuários, sem favorecimento de serviços próprios.
Questionado sobre a razão de ter mudado de opinião, em entrevista ao site americano Re/Code, Wu disse que "quando os fatos mudam, suas conclusões podem mudar também", disse, observando que a mais surpreendente descoberta é que o Google não está oferecendo o seu melhor produto.
O estudo poderá levar os órgãos reguladores do governo, em particular a FTC, a reabrir as investigações sobre Google por "promover os seus próprios serviços". O resultado do estudo pode dar, também, mais munição à Comissão Europeia, que ameaça multar a empresa em até 10% do seu faturamento global e restringir sua atuação na zona do euro.
O Google questionou os resultados da pesquisa. "Isso não é novo", disse a empresa em um comunicado. "O Yelp vem usando esses argumentos aos reguladores, e exigindo maior posicionamento nos resultados de busca, nos últimos cinco anos. Este último estudo é baseado em uma metodologia inadequada que se concentra em resultados de buscas escolhidas a dedo. E o Google se concentra em tentar fornecer os melhores resultados para nossos usuários."