Estou há 2 semanas mergulhado nos encontros presenciais do curso Harvard Business School OPM (Owner/President Management). Fico hospedado num dorm da universidade compartilhado com outros 8 CEOs. Cada um de nós tem um quarto, mas dividimos a sala e a cozinha. Aqui em Cambridge, Massachusetts, EUA, presidentes de empresas de todo o mundo, todas as verticais, todas as etnias, todos os gêneros, todas as idades, todas as experiências, vivem juntos por três semanas. Nossa meta é nos tornarmos líderes melhores, trilhando um caminho de aprendizagem que quebre paradigmas e questione nossas certezas. O curso a que pertencemos reúne 150 líderes e dura três anos. A fase de aulas presenciais é uma das coisas mais estimulantes que vivi até hoje.
A gente acorda, faz o café e já começa a manhã discutindo entre nós os estudos de caso que serão o foco das aulas do dia. Os estudos de caso e o material de apoio para o curso equivalem a cerca de 1000 páginas que serão lidas, analisadas e discutidas em detalhes por cada um de nós.
Estudo de casos analisados por CEOs de todo o mundo
A pedagogia do OPM é totalmente centrada na metodologia Harvard de estudos de caso sobre desafios de negócios complexos. A troca de ideias com nossos pares nos expõe a perspectivas de fora da nossa experiência – isso nos leva a incluir em nossos raciocínios visões e dados que, sem o curso da Harvard Business School, não teriam o impacto que têm. Essa jornada de transformação começa no estudo individual dos textos prévios, avança para as discussões do "living group" com 8 colegas de todo o mundo e é finalmente consolidada na aula geral, quando os melhores professores nos ajudam a avançar para terras ainda não exploradas.
O OPM é um curso em que aprendemos um pouco sozinhos e muito com os outros CEOs e com os professores de Harvard. É uma experiência diária de humildade e colaboração: graças à vivência e ao conhecimento do outro conseguimos dar saltos na nossa visão sobre o mundo.
Especialmente em relação ao "living group" de 9 CEOs do qual faço parte, a interação é muito rica e aberta. Durante uma manhã posso, por exemplo, receber um retorno de um colega para um ponto especialmente difícil do estudo de caso sendo analisado. Se desejarmos, depois podemos aprofundar essa troca, chegando no detalhe do detalhe da estratégia e da execução que meu colega compartilhou durante a reunião em grupo.
Tendo recentemente concluído meu MBA executivo pela Columbia Business School e pela London Business School, aponto uma diferença crucial na abordagem do OPM que me está sendo útil e tem me encantado: estudos de caso e análises mais cross e não verticalizadas como ocorre em cursos de MBA.
Temos, por exemplo, a oportunidade de analisar desafios de marketing não somente sob a ótica de marketing, mas incluindo todas as outras óticas que um CEO precisa ter em mente em qualquer tomada de decisão. Como uma decisão ou desafio do marketing afeta vendas? Operações? A estratégia de longo prazo da empresa? O risco e a governança? Cada estudo de caso encaixa-se em várias das seguintes categorias:
Gestão de performance: foco no crescimento do faturamento, rentabilidade e em como lidar com a inovação e o risco. Inclui, por exemplo, como traduzir a estratégia de negócios em alvos e métricas claros para todo o time de colaboradores.
Empreendedorismo: como obter altos índices de crescimento em meio às incertezas do mercado. Usa modelos analíticos de negócios para transformar uma oportunidade viável em uma estratégia viável e concreta.
Finanças: foco em gerenciar riscos financeiros de forma estratégica, tomando as melhores decisões em relação a essa área. Inclui como ter acesso a novos fundos para expandir linhas de negócios ou lançar novos negócios.
Negócios globais: oferece uma visão estratégica sobre o ambiente dos negócios internacionais. Ensina como analisar o contexto e o risco de cada país e, a partir daí, decidir onde implementar o negócio.
Liderança: estudos comparativos entre diferentes estilos de liderança e gestão de pessoas. Mostra como criar um sistema de liderança que suporta de forma contínua a excelência operacional da empresa.
Marketing: como gerenciar os dois ativos mais importante do marketing da empresa – os clientes e a marca. Aponta, ainda, caminhos de construção de programas de go-to-market e posicionamento de mercado que efetivamente atraem e mantém clientes.
Negociações: a importância de dominar situações em que muito da ação acontece antes ou depois da sessão de negociação. Como auditar as forças e as fraquezas do negociador e testar novas habilidades em simulações tentando extrair o maior valor para ambas as partes.
Operações: qual o papel do líder na construção da excelência operacional da empresa. Como motivar pessoas para realizar um trabalho extraordinário de forma contínua.
Vendas: estratégias para otimizar as funções de vendas, um dos aspectos mais caros e consumidores de tempo de uma empresa. Como avaliar e responder aos fatores que estão transformando os processos de compras.
Estratégia: a importância de reconhecer – e cumprir – o papel do CEO como Chief Strategist. Como entender o ambiente competitivo ao redor da sua empresa e as forças e as fraquezas do negócio do CEO.
No curso OPM tenho aprendido várias coisas. Sim, o CEO tem de ser um estrategista. Mas sua capacidade de comunicar os valores da empresa a todas as pessoas de dentro e de fora da empresa (clientes e fornecedores) é um fator essencial na execução da estratégia. Ao final do dia, é a execução consistente da estratégia que determina a força de uma marca e a fidelidade de seus clientes.
Flexibilidade e adaptabilidade são as marcas do CEO
Está claro, também, que planos de negócios focados em anos à frente ficaram no passado. O que o mercado exige hoje é flexibilidade, informação e adaptabilidade. Outro fator de sucesso é construir um negócio em que a cultura do "nós" derruba os velhos silos e a cultura do "eu". Quem não fizer isso contará com uma empresa dividida e sem velocidade para competir na economia digital, extremamente acelerada.
A jornada do CEO exige uma evolução constante do nosso conhecimento. Minha experiencia no OPM aumenta a densidade do que aprendi nos MBAs Columbia e London Business School. A meta é estar preparado para, junto com meu time, e graças a uma estreita integração com clientes e fornecedores, seguir avançando no mercado brasileiro e internacional. Queremos tornar nosso o lema da Harvard Business School: "Nós educamos líderes que fazem diferença no mundo". Neste caso, é bom que fique claro, não falo só de negócios. Falo da construção do futuro.
Thiago N. Felippe, CEO da Aiqon.
