Métodos ágeis, como o Scrum, criam nova geração de profissionais

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Segundo o relatório CHAOS Manifesto 2011 (divulgado pelo The Standish Group), o índice de projetos de tecnologia da informação rotulados com sucesso subiu de 32% em 2008 para 37% em 2010, enquanto os fracassos caíram de 24% para 21%. O primeiro motivo apontado pelo grupo como causa desta evolução é o aumento da adoção de metodologias ágeis, como o Scrum, que cresce à taxa de 22% CAGR (Taxa de Crescimento Composto Anual). Hoje, tais métodos representam mundialmente 9% de todos os projetos e são usados em 29% dos desenvolvimentos de novas aplicações.

O Scrum, principal metodologia de desenvolvimento ágil, consiste em uma forma incremental de criar software com a maior geração de valor possível. Para o mercado de tecnologia da informação, tal método impulsionou projetos sem escopo rígido, nos quais cada etapa é construída de forma evolutiva ao longo do processo de desenvolvimento. Assim, cliente e fornecedor atuam conjuntamente, evitando gastos desnecessários, horas de produção não aproveitadas e cronogramas inadequados à realidade do processo de desenvolvimento, fatores que têm impacto direto nos custos.

No Brasil, a metodologia tem ganhado espaço e, em razão disso, muitas empresas de TI começaram a colocar em xeque a efetividade dos métodos tradicionalmente defendidos pelo PMI (Project Management Institute), o que, na prática, significa questionar a atuação do PMP (Project Management Professional) em projetos de tecnologia. Isso porque o gerente de projetos tradicional passou a ser visto pelos desenvolvedores como um líder autoritário e inimputável, que não conhece em detalhes o processo de desenvolvimento e exige cronogramas prescritivos em longo prazo.

A Concrete Solutions, consultoria global de TI, utiliza o Scrum há quatro anos e é uma das precursoras no uso da metodologia no País. Segundo o diretor-executivo da companhia, Fernando de la Riva, o sucesso de projetos de TI depende da boa sinergia entre as pessoas e as práticas de engenharia. “O uso dos métodos ágeis está diretamente ligado ao aumento do sucesso. Na Concrete, há um ambiente maduro de práticas de desenvolvimento de software e usamos o Scrum em 56% dos projetos. Com isso, nossa taxa de entregas dentro do prazo ultrapassa 95%”, afirma.

O ideal no novo modelo é que o líder seja “servidor” e trabalhe junto à equipe. Isso porque o desenvolvimento de software é um processo empírico, que tem que ser constantemente analisado e alterado. “A disciplina-chefe da engenharia de software, além do foco em qualidade, é a agilidade. Nesse ponto, a estrutura tradicional de processos do PMI não se encaixa, porque para a maioria dos projetos de TI não importam os contratos de aquisição, planejamentos utópicos, controle por pontos de função etc. Essas práticas evoluíram para o que chamamos de metodologias ágeis”, explica o associado-sênior da Concrete, Bruno Moneró. Para Bruno Pereira, gerente de operações da mesma empresa, o método defendido pelo PMI esbarra em muitas etapas prescritivas e de planejamento que não consideram informações importantes no desenvolvimento do projeto. “Os métodos ágeis trabalham com horizontes menores, o que exige inspeções e adaptações contínuas. Assim, as reuniões são mais frequentes e rápidas”, diz.

Neste cenário, a figura convencional do gerente de projetos, com poderes absolutos, passa a ser dividida em três cargos que se complementam: o Product Owner (PO), que deve ter a visão estratégica sobre o que gera mais valor ao produto; o Scrum Master, que resolve impedimentos e atua para dar melhores condições de trabalho ao time de desenvolvedores; e o próprio time. Nessa nova configuração, a equipe tem mais autonomia e liberdade para desenvolver o projeto. “O time de desenvolvedores é autogerenciado e tem responsabilidade sobre as entregas. O trabalho fica mais leve, tem mais foco no desenvolvimento e, com isso, perdemos menos tempo com processos”, avalia Pereira.

Para os profissionais que hoje atuam como gerente de projetos em TI, a dica é estar atento à evolução do cargo. “A função mais importante do PO é manter o ‘product backlog’ [lista de funcionalidades do produto] organizado. Para isto, ele precisa escolher o que é mais valioso em cada momento; e conhecer o mercado, o público-alvo e todas as nuances do produto”, defende Pereira. Para o Scrum Master, por sua vez, “é importantíssimo entender profundamente da metodologia, pois só assim ele poderá orientar a equipe para as melhores práticas. Além disso, ajuda muito ter plenos conhecimentos da arquitetura e da tecnologia utilizadas”, afirma Moneró.

De acordo com os especialistas, as empresas que adotam os métodos ágeis devem estar atentas à relação entre o time, o gerente e o cliente, que deve ser bem estreita. Afinal, o software construído com colaboração contínua pode gerar mais valor. “Um profissional de TI não pode estagnar, deve sempre procurar se manter informado, atualizado, de olho nos principais canais de comunicação técnica e redes sociais. Daqui a pouco pode surgir outra metodologia que se mostrará ainda mais eficiente, e a base deve ser sempre científica. O nosso entendimento do conhecimento é a base da filosofia: sabemos que não sabemos tudo. ”, finaliza Moneró.

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