O desempenho positivo do PIB no segundo trimestre de 2023, anunciado em setembro pelo IBGE, associado à leve redução da inflação, sinalizou uma tendência de moderada recuperação. O aumento de 0,9% em relação aos três meses imediatamente anteriores, 3,4% ante o mesmo período de 2022 e de 3,7% no acumulado do semestre na comparação interanual ocorre no contexto da aprovação da reforma tributária do consumo na Câmara dos Deputados, promulgação do arcabouço fiscal e anúncio do Novo Marco Orçamentário a ser proposto ao Congresso Nacional em 2024. São medidas estruturais, às quais esperamos que se some a concretização da tão esperada reforma administrativa, com potencial de contribuir para o fomento econômico.
Nossa percepção, permeada por um otimismo responsável, é de que este é o momento para as empresas brasileiras adotarem estratégias para ampliar seus negócios, melhorar a produtividade e conquistar desempenho crescente. A resiliência percebida no enfrentamento dos problemas inerentes à pandemia, ao cenário político interno e às incertezas provocadas pelo quadro geopolítico global demonstra que elas têm energia e capacidade de surfar nas ondas de um ambiente que vai se tornando mais favorável.
Para isso, entretanto, independentemente dos rumos do Brasil e da economia global, num mundo ainda marcado por incertezas, há medidas essenciais capazes de contribuir para o alcance de bons resultados. Dentre os diversos desafios atuais ligados à mudança do comportamento do consumidor, transformação digital e competitividade, algo muito importante refere-se à adoção efetiva dos princípios da governança ambiental, social e corporativa (ESG). Afinal, investidores institucionais, clientes, consumidores, reguladores e todos os stakeholders vêm exigindo cada vez mais essa postura das organizações.
Os avanços em ESG são cruciais para o atendimento a outra estratégia voltada ao incremento dos negócios: responder às mudanças nas demandas dos clientes e consumidores e dar grande atenção à sua experiência. As empresas precisam estar preparadas para responder às transformações, o que implica sistemas produtivos e serviços mais sustentáveis, respeito à diversidade na concepção e oferta de produtos, marcas alinhadas a posicionamentos éticos, interação amigável com a sociedade e as comunidades vizinhas, compliance e transparência.
Outro aspecto importante dos preceitos de ESG é que proporcionam ganhos de imagem e reputação e podem ser uma forma de diminuir custos e aumentar a eficiência operacional, em linha com os propósitos de melhorar o desempenho das empresas. Práticas sustentáveis resultam em menor consumo de recursos como água e energia e mitigam o impacto ambiental, o que significa menos riscos para os negócios. Lembro, ainda, que o uso de energia renovável e automatização de processos, iniciativas igualmente relacionadas à sustentabilidade, atenuam o impacto ambiental e melhoram a eficiência operacional.
Ação também importante para o crescimento das empresas é investir em tecnologia, como inteligência artificial, robotização, automação e análise de dados, para otimizar processos, reduzir o tempo de produção e aumentar a eficiência. Ênfase, é claro, para o fato de que essas ferramentas devem sempre ser vistas como acessórias do insubstituível talento humano. É importante para o êxito de um programa de aporte tecnológico a aproximação das áreas de TI e de operações, bem como medidas eficazes para a prevenção e combate aos riscos cibernéticos, considerando o agravamento dos ataques de ransomware no Brasil e no mundo.
É fundamental considerar que a digitalização da economia ocorre de modo cada vez mais rápido, exigindo que as empresas adequem-se à nova realidade. Uma das vertentes nesse processo é a eficácia da análise de dados, ferramenta crucial para o diagnóstico das demandas dos clientes e consumidores e criação de produtos e serviços customizados e sustentáveis. Não se pode fugir disso. Percebemos que o mercado nacional está cada vez mais conectado. Iniciativa correlata à inovação é investir no e-commerce, considerando o potencial significativo de aumento das vendas e conquista de novos clientes.
Parcerias estratégicas, que podem ser joint ventures, fusões e aquisições, terceirização ou acordos operacionais, também devem ser estudadas, pois quando se realizam de modo sinérgico proporcionam redução dos custos de produção e distribuição e ampliação da base de clientes. São alternativas para compartilhar recursos, conhecimentos e experiências, além de abrir novas oportunidades de negócios. Economia e eficácia são viabilizadas, ainda, pela eliminação de desperdícios, otimização de processos e melhor gestão de estoques.
As oportunidades sempre estão ao alcance das empresas de todos os setores. Por isso, é fundamental ser proativo para identificá-las e convertê-las em fatores de desenvolvimento dos negócios. Se isso é viável até mesmo nas adversidades, como comprova a trajetória de sucesso de numerosas organizações instaladas no Brasil, as possibilidades são mais amplas na presente conjuntura de melhoria moderada do cenário econômico e modernização do arcabouço legal.
Charles Krieck, presidente da KPMG no Brasil e na América do Sul.