O banco Santander divulgou nesta terça-feira, 6, para seus clientes institucionais, como fundos de investimentos, um relatório sobre a moeda digital bitcoin, no qual avalia o impacto da tecnologia em empresas do mercado financeiro brasileiro. Segundo o banco, a moeda digital pode representar tanto uma oportunidade quanto uma ameaça a diferentes setores.
Para elaborar o relatório, o banco convidou a startup brasileira Mercado Bitcoin. "As instituições financeiras estão se movimentando para que não aconteça com elas o que aconteceu com a Kodak, após a popularização da fotografia digital, ou com a Blockbuster, após o sucesso da Netflix", diz Rodrigo Batista, sócio do Mercado Bitcoin.
O relatório avalia que empresas que processam transações de pagamento com cartões de crédito como a Cielo e empresas que emitem estes cartões, como os bancos, podem ser impactados negativamente por conta da agilidade, menor burocracia e menores taxas que envolvem transações com bitcoin.
Já para a Valid, por exemplo, empresa de tecnologia de meios de pagamento, pode ser afetada negativamente pela aceitação de bitcoins, embora a uma escala muito menor, devido ao reduzido número de cartões físicos. O mesmo se aplica aos fabricantes de terminais ponto de venda (PoS).
No entanto, as bandeiras de cartões como Elo, Visa (que já anunciou algumas iniciativas em curso) e Mastercard podem se beneficiar da tecnologia que pode ser utilizada para redução de custos, diz o relatório. As bolsas de valores, como a BM&FBovespa, também podem sair ganhando, incluindo moedas digitais em seu portfólio de produtos.
Atualmente, o banco diz que é difícil avaliar o impacto potencial na Bovespa, apesar de entender que uma vez que uma moeda virtual específica surja como a mais aceitável (bitcoins estão no topo da lista em termos de consciência e aceitação, embora existam cerca de 300 diferentes tipos de moedas virtuais até agora), ela poderá ser negociada em bolsa, aumentando assim a receita com a negociação de derivativos de câmbio. No entanto, O Santander diz acreditar que neste mundo virtual haverá menos taxas com custódia e liquidação (clearing houses).
Tecnologia blockchain
O relatório ressalta que a tecnologia blockchain — que funciona por meio da criação de "registros" públicos permanentes de todas as transações e que podem potencialmente substituir complexos sistemas de clearing — pode reduzir os custos da transação, de TI e das operações de back office dos bancos. A bitcoin é a maior implementação da tecnologia de blockchain.
Embora os bancos considerem a tecnologia em seus estágios iniciais, no entanto, isso não os impediu de começassem a agir. Por exemplo, os quatro dos maiores bancos do mundo (Santander, Deutsche Bank, BNY Mellon, e UBS, além da corretora ICAP) se uniram para desenvolver uma nova forma de dinheiro digital que, acreditam, vai se tornar um padrão de operações financeira.
O relatório também cita o Citigroup (que tem trabalhado em sua própria solução, chamada de "Citicoin"), o Goldman Sachs (com sua "SETLcoin") e o JP Morgan entre os bancos que afirmam que estão trabalhando em suas próprias versões de moeda eletrônica. "Nós acreditamos que o conceito blockchain tem o potencial de redefinir as transações em dinheiro no mundo bancário, aproveitando o poder das redes de comunicações descentralizadas.
Numa primeira leitura, o relatório vê a chegada da bitcoin como positiva, devido ao potencial de economia de custos. Mas avalia que é muito cedo para qualquer conclusão definitiva, e isso inclui o impacto negativo potencial com uma redução do fluxo de receitas provenientes de subsidiárias dos bancos e de câmbio (se o conceito bitcoin prevalecer).
Na conclusão do relatório, o Santander reconhece que uma das barreiras para adoção do dinheiro eletrônico é o medo de que ele seja usado para lavagem de dinheiro. Contudo, o banco diz que essa situação está mudando, informando que grandes bancos já estudam tecnologias de moeda digital. Um dos argumentos usados para tal citação é um relatório em que o banco central inglês afirma o baixo risco do uso de bitcoins para a prática de lavagem de dinheiro.