Embora o Google tenha negado várias vezes qualquer colaboração com o esquema de espionagem digital do governo americano e de ter facilitado o trabalho dos espiões, desde que vieram a público as denúncias da existência do programa de vigilância em massa da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês), a revelação nesta semana de que o gigante das buscas teria facilitado o acesso às autoridades ao e-mail de três de seus integrantes do WikiLeaks, sem comunicado prévio, ajuda a corroer ainda mais a imagem que procura passar incessantemente de empresa do bem.
Para piorar, o Google começa a ser cada vez mais questionado sobre a manipulação de informações privadas de assinantes após a divulgação de que ele esperou dois anos e meio após a entrega ao FBI, a polícia federal americana, de todo o material das contas de e-mails dos três funcionários do site, que ficou famoso por ter vazado documentos confidenciais de empresas e órgão governamentais. A entrega aconteceu em março de 2012, mas o Google somente informou o WikiLeaks em 23 de dezembro 2014, aproveitando as festas de Natal.
No mês passado, foi revelado também que o Google cooperou com os agentes federais após ter recebido mandados secretos exigindo que entregasse todos os e-mails e endereços de IP relativos aos três funcionários do WikiLeaks. Os três funcionários são a britânica Sarah Harrison, o editor sênior Joseph Farrell e a porta-voz da organização, Kristinn Hrafnsson.
Os três foram informados pelo Google em 23 de dezembro de 2014 que seus dados pessoais haviam sido entregues documentos "sensíveis" ao governo dos EUA, mas sem especificar a natureza dos dados que havia divulgado ou a quantidade. A única coisa que se sabe é que a ordem do FBI era para que fosse entregue todo o conteúdo dos e-mails, incluindo e-mails apagados, rascunhos, o local e a hora de login, além de listas de contatos e todos os e-mails enviados e recebidos pelos três funcionários.
Lei da mordaça
Em sua justificativa, o Google disse que a demora de mais de dois anos para notificar o WikiLeaks se deu em razão da "lei da mordaça" imposta por um juiz federal, que proibiu a empresa de informar ou falar sobre o assunto, inclusive para as pessoas afetadas. Investigação feita por um repórter do The Guardian mostra que os mandados, de fato, chegaram ao Tribunal Distrital da Virginia, somente em 15 de maio do ano passado — seis meses antes de o WikiLeaks ser informado.
Em um comunicado ao jornal britânico, o Google disse que a política da empresa é "informar às pessoas sobre pedidos do governo para fornecimento de seus dados, exceto em casos limitados, como quando estamos amordaçados por uma ordem judicial, o que infelizmente acontece muito frequentemente". A empresa diz desafiou muitas ordens relativas ao WikiLeaks.
Nesta semana, o WikiLeaks disse que pretende tomar medidas legais contra o Google e contra o governo dos EUA, alegando que a entrega de informações privadas de seus funcionários fere a lei americana.
"Nós estamos avaliando se vamos mover ações legais, não só contra o Google, mas contra todos aqueles envolvidos no caso", disse Baltasar Garzón, chefe da equipe de defesa de Julian Assange, editor-chefe do WikiLeaks. Ele classificou a ordem de acesso aos e-mails dos funcionários de arbitrária. "Qualquer informação utilizada a partir da obtenção de documentos [dessa forma] é ilegal."