As empresas de tecnologia, em especial as norte-americanas, podem ser forçadas a reavaliar a manutenção de suas operações na Grã-Bretanha ou até mesmo transferir suas sedes para outros países se o Reino Unido decidir por deixar a União Europeia no referendo marcado para esta quinta-feira, 23, possibilidade que passou a ser chamada de "Brexit", acrônimo de "Britain Exit".
A maior preocupação dessas empresas, que nos últimos anos têm travado várias quedas de braço com a União Europeia, envolvendo desde questões sobre privacidade, isenções fiscais até lei antitruste, é que caso o Reino Unido decida deixar o bloco haja um aprofundamento dessas batalhas e se criem novos obstáculos para que façam negócios no Reino Unido, também.
Em jogo está um delicado equilíbrio sobre a política de tecnologia entre os países na União Europeia, incluindo o Reino Unido e países nórdicos e bálticos, que têm uma regulamentação mais branda, e outros, liderados pela França e Alemanha, que argumentam que o surgimento de grandes empresas de tecnologia globais requer novas regras para que a disputa possa ser nivelada e justa.
O The Wall Street Journal ouviu vários executivos de tecnologia e lobistas para saber o que eles pensam e quais são os efeitos imediatos e de longo prazo, caso o plebiscito indique pela saída do país do bloco.
"No caso o Brexit vença, eu estarei preocupado com a direção que pode tomar a política tecnológica europeia", disse Dan Rogers, cofundador da Peakon, uma startup dinamarquesa que oferece uma plataforma de análise e recrutamento de empregados para empresas. "Sem o Reino Unido como um contrapeso, há uma grande possibilidade de que a União Europeia promulgue regulamentos prejudiciais às nossas atividades."
Para a gigante Microsoft, que há uma década vem enfrentando investigações antitruste na União Europeia, inclusive já tendo recebido uma multa de 2,2 bilhões de euros, a permanência do Reino Unido no bloco é fundamental. Tanto que no mês passado ela enviou uma carta aberta na qual pede aos executivos da empresa que votem para que o país fique na União Europeia. "Historicamente, o fato de o Reino Unido fazer parte da União Europeia tem sido um dos critérios importantes e o torna um dos lugares mais atraentes da Europa", escreveu o chefe da Microsoft no Reino Unido, Michel Van der Bel.
A maioria das grandes empresas de tecnologia norte-americanas se recusaram a comentar sobre a votação, mas alguns executivos reconheceram, sob a condição de anonimato, que, se o Reino Unido deixar a União Europeia ou se o bloco impuser restrições sobre, por exemplo, o uso de dados pessoais, ou mudar as regras de tributação das empresas, pode acelerar o êxodo das operações.
Os políticos que se alinham com mais frequência com o Reino Unido nos debates sobre regulação de tecnologia dizem que a saída do país da União Europeia pode alterar o equilíbrio no Mercado. "O Reino Unido é um parceiro importante para uma Europa progressista, pró-negócios, e para a geração de empregos", disse Antanas Guoga, deputado do Parlamento Europeu de origem lituana. "Sem o Reino Unido, tudo vai ser muito complexo, eu acho."
Outra questão que pode fazer com que as empresas de tecnologia reavaliem as operações no Reino Unido caso a Brexit vença diz respeito à mão de obra, já que elas estão em uma corrida em busca de trabalhadores qualificados. Executivos dizem que um elemento atraente de Londres é a capacidade de atrair pessoal de toda a União Europeia para trabalhar lá sem qualquer burocracia. Com a saída do bloco, não será nada fácil a contratação de estrangeiros.
"Isso pode ter um impacto enorme para as empresas com sede na Grã-Bretanha ou que queiram abrir suas sedes no país", disse James Waterworth, o vice-presidente da Associação da Indústria de Computadores e de Comunicações (CCIA), organização com sede nos EUA que representa a Amazon.com, Facebook, Alphabet/Google e Ebay, entre outras.