Cidades do Amanhã

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Era setembro de 2011 e fazia muito calor (44C°). O ar condicionado do carro parecia não dar vazão e a qualquer momento eu ficaria na mão em pleno deserto da Judéia. Jerusalém havia ficado para trás e as placas de -100m, -200m, -300m indicavam que eu estava na região habitada mais profunda do planeta, metros abaixo do nível do mar. Segura e bem sinalizada, a autoestrada #1 é uma das principais de Israel, e interliga Tel Aviv, Jerusalém e o Vale do Jordão. Meu destino era Jericó, a cidade mais antiga do mundo!

Famosa por suas citações na Bíblia, Jericó era uma das cidades preferidas na rota entre o Mar da Galileia e Jerusalém, principalmente para os judeus que não queriam (ou podiam) passar pela Samaria, sendo um ponto vital de refresco antes de iniciar a subida até a capital. Essa cidade foi a porta de entrada para os peregrinos judeus, 40 anos depois de terem saído do Egito. O célebre militar e político romano Marco Antonio (83 a.C.) deu Jericó, a Terra das Palmeiras, de presente para sua amada Cleópatra (37 a.C.). Foi ali que morreu Herodes, o Grande (4 a.C.). Jericó é atualmente a cidade habitada mais antiga da Terra, cujos primeiros assentamentos datam de 8.000 a.C. Nos últimos 100 anos, entretanto, uma nova Jericó cresceu, localizada a cerca de um quilometro da cidade antiga, e foi uma das primeiras cidades cedidas por Israel à administração da autoridade Palestina, em 1994, como resultado do acordo de Oslo.

O que fazia de Jericó uma cidade tão importante e quais lições podem-se tirar de sua história? Essas eram as perguntas que me vinham à mente enquanto visitava o monte Tel es-Sultan, a cidade antiga. A resposta me pareceu óbvia: suprimento de água, geografia privilegiada e localização estratégica. A terra das Tâmaras, como também é conhecida, aproveitou sua condição de oásis no deserto para se desenvolver e não desaparecer na história depois de sucessivas invasões e ataques de forças estrangeiras.

Há 10.000 anos, Jericó não passava de uma vila com cerca de 30 pessoas, talvez menos. Em 2008, a humanidade atingiu uma marca importante. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), "pela primeira vez na história, a população urbana era igual a população rural do planeta". No final do século XIX, 200 milhões de pessoas viviam nas cidades. Para 2050, a ONU estima a população urbana em 6,5 bilhões de pessoas. Portanto, as cidades do século XXI devem oferecer muito mais do que água potável e hospedagem para transeuntes.

Seria o caos? Prefiro o otimismo do matemático e filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716): "o melhor de todos os mundos possíveis".

As cidades do século XXI têm muito a oferecer, mas para que elas possam atender as novas demandas da população, é mandatório um maior investimento em tecnologia. Não tem jeito. As cidades do amanhã terão que ser inteligentes e conectadas.

No final de 2013, fiz uma viagem de volta ao mundo em busca das Cidades Inteligentes. Em 40 mil quilômetros voados, deparei-me com casos fantásticos de como a tecnologia da informação e as comunicações podem transformar a maneira como vivemos e interagimos nas cidades. Contarei esses casos em artigos futuros, mas neste, gostaria de destacar o projeto de Songdo. A cidade inteligente da Coreia do Sul.

A crise de 1997 fez com que a Coreia do Sul abraçasse a internet e a utilizasse como um motor de recuperação econômica e de transformação da sociedade. O governo nacional modernizou as leis de telecomunicações, investiu em uma rede nacional de banda larga e lançou uma variedade de novas políticas que impulsionaram o uso da conectividade na educação, na saúde e nos serviços prestados pelo governo.

Localizada a cerca de 70 km da capital Seul, Songdo é a prova de que a vida nas cidades será definida pela dinâmica dos sistemas adaptativos que responderão em tempo real às mudanças de condições. Assim como Jericó, Songdo desfruta de uma localização privilegiada na Ásia estando a poucas horas de voo das maiores cidades da China e do Japão. Seu Distrito Internacional de Negócios se propõe a ser um dos principais do continente asiático e, para que esse desejo se torne realidade, investimentos contínuos em tecnologia estão sendo feitos. Com base no conceito de "open data city" (cidade de dados abertos), seus moradores podem acessar, em tempo real, as informações geradas por sensores distribuídos por toda a cidade, criando um ecossistema de informações capaz de tornar suas vidas mais fáceis e dinâmicas.

Maravilhoso, não? As cidades de pedra, concreto, aço e vidro, agora são inundadas por sistemas eletrônicos que, sem percebermos, suportam a vida cotidiana de milhões de pessoas e atraem empresas que preferem um ambiente sustentável e competitivo para impulsionar seus negócios.

Assim como Jericó, cuja localização, geografia e recursos hídricos a tornaram tão importante durante milhares de anos, as cidades do amanhã que desejam exercer liderança regional e ter diferenciais competitivos deverão investir em soluções tecnológicas que potencializem o que têm de melhor a oferecer.

Lucas Pinz, gerente sênior de Tecnologia na PromonLogicalis.

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