Com mais de 1 bilhão de visitas mensais, o que representa quase 50% das pessoas que usam a internet, o YouTube, que se transformou em um sucesso global desde seu lançamento em 2005, ainda não se tornou um negócio rentável. O site, adquirido em 2006 pelo Google, por US$ 1,65 bilhão, embora tenha sido responsável por cerca de 6% das vendas totais do gigante das buscas no ano passado, não contribuiu para o lucro.
De acordo com duas pessoas familiarizadas com as finanças do site ouvidas pelo The Wall Street Journal, o YouTube encerrou 2014 com receita de cerca de US$ 4 bilhões. Quando comparada com o Facebook, que tem 1,3 bilhão de usuários, ela representa apenas um terço dos cerca de US$ 12 bilhões de receita contabilizados pela rede social no ano passado.
Os números refletem o desafio do YouTube para expandir sua audiência para além de adolescentes e pré-adolescentes. A maioria desses usuários, segundo analistas, vê o site como um repositório de vídeos para ser acessado a partir de links ou uma espécie de console de videocassete de vídeos postados em outros lugares, em vez de visitá-lo diariamente. A meta do Google é transformar o YouTube num hábito como a TV, no qual os usuários possam encontrar diferentes "canais" de entretenimento.
Outro desafio, mais difícil de resolver, será enfrentar a concorrência do Facebook e Twitter, que rotineiramente deslocam tráfego para o YouTube e estão desenvolvendo suas próprias ofertas de vídeo. Isso, sem falar na Amazon.com e no Netflix que estão transformando o conceito de vídeo online, produzido e criando programação original.
"Há um monte de lixo no YouTube", diz o analista da Pivotal Research, Brian Weiser. "Se eles querem receitas significativas, eles precisam investir em conteúdo de TV", disse ele ao jornal americano.
O diretor de operações comerciais e de conteúdo do YouTube, Robert Kyncl, discorda. Na avaliação dele, o vídeo online está prestes a ingressar num ciclo virtuoso de crescimento, assim como ocorreu a TV a cabo há 30 anos. Ele diz que faz mais sentido para o YouTube investir em "criadores nativos da internet", em vez de em programas de TV tradicionais.
Mas essa estratégia também é duvidosa. Os esforços passados para tornar o YouTube em uma "mídia" alternativa renderam poucos frutos. Em 2012, o YouTube desembolsou centenas de milhões de dólares para produtores de conteúdo, num esforço para criar canais de vídeo sob demanda. O YouTube também redesenhou sua home page e modificou algoritmos que promovem vídeos para encorajar visitas mais freqüentes.
Público restrito
Mas muitos desses canais falharam. A razão desse insucesso, reiteram os analistas, é que o YouTube atende a um público restrito de telespectadores jovens. Vídeos de música são o seu conteúdo mais popular. Isso significa que os anunciantes atingem muito menos pessoas do que via televisão, diz Weiser, da Pivotal. Ele estima que 9% dos telespectadores são responsáveis por 85% das visualizações de vídeos online.
Em janeiro deste ano, o YouTube adquiriu os direitos para exibir clipes de jogos da National Football League (NFL), entrevistas e muito mais, um acordo semelhante ao que o Facebook fez em dezembro do ano passado com a NFL, a liga de futebol americano nos EUA. O site também está apresentando episódios do seriado Vila Sésamo (Sesame Street, em inglês) e "Thomas the Tank Engine", para um novo app para crianças, visando ampliar sua audiência.
Outras medidas para aumentar a audiência incluem colocar mais vídeos automaticamente, como acontece no Facebook, Instagram e no Twitter Vine. O recurso "autoplay" é esperado para ser implantado em breve, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.
Além de aumentar a audiência, a CEO do YouTube, Susan Wojcicki, também está sob pressão para impulsionar as vendas, em razão da desaceleração da publicidade no Google. No ano passado, o YouTube possou a permtir que os anunciantes reservassem espaço publicitário ao lado de vídeos populares, como o de PewDiePie e da comediante Jenna Marbles. O PewDiePie ou "Pewds", como também é chamado, já acumula 27 milhões de inscritos e é o maior canal de conteúdo do site, perdendo apenas para os canais oficiais que agregam vídeos de música, jogos, esportes, notícias e outros populares. No final de 2013, o YouTube já havia deixado os anunciantes usarem a tecnologia da Nielsen, em vez de sua própria, para medir a audiência de seus anúncios.
Em breve, o YouTube deve lançar também seu tão aguardado serviço pago de assinatura mensal, chamado YouTube Music Key. A versão beta do serviço está sendo testada e disponibilizada por convite. O serviço, livre de anúncios, vai começar em US$ 7,99 por mês e permitirá aos usuários assistir a vídeos online e ouvir música enquanto outros aplicativos estão funcionando.
Para os analistas, todas essas mudanças devem, sem dúvida, contribuir para o aumento da audiência e, consequentemente, das receitas do site, mas se irão se tornar, de fato, rentáveis só o tempo dirá.