A China Labor Watch, organização não governamental que atua na área trabalhista, sediada em Nova York, identificou uma série de irregularidades trabalhistas na fábrica da fornecedora taiwanesa de dispositivos da Apple, Pegatron, e duas de suas subsidiárias. Segundo relatório a ser divulgado nesta segunda-feira, 29, e obtido pelo The Wall Street Journal, as violações estão relacionadas à segurança e questões ambientais, retenção de salário dos trabalhadores e más condições de moradia nas fábricas baseadas na China.
A empresa ainda é acusada de oferecer alojamentos apertados, além dos funcionários esperarem 30 minutos para entrar nas instalações de produção e conviverem com força de trabalho que excede 60 horas semanais. Em sua defesa, a Pegatron disse que as horas de trabalho estão dentro dos regulamentos locais e que quatro novos dormitórios estão sendo concluídos na fábrica. Ainda há acusações de que cerca de 3 mil funcionários que moldam o entorno do iPad frequentemente utilizam fluido nocivo e trabalham sem luvas de proteção contra a absorção de produtos químicos. Outras reclamações referem-se ao barulho das máquinas, longos turnos de trabalho em pé e más condições de vida.
A fábrica da Pegatron em Pudong, distrito de Shanghai, produz cerca de um terço dos iPhones e iPads, segundo analistas. A fornecedora expandiu sua força de trabalho de 50 mil funcionários, em março, para cerca de 70 mil atualmente. A empresa depende em grande parte de recrutadores terceirizados para encontrar dezenas de milhares de novos trabalhadores, e as acusações indicam que esses recrutadores têm direito a parte do salário do trabalhador quando ele deixa de trabalhar em período fixo, e ainda deixam de fornecer, em alguns casos, seguro legalmente obrigatório aos empregados.
O CEO da Pegatron, Jason Chang, declarou que vai investigar as acusações e "tomar ações imediatas para corrigir eventuais violações às leis trabalhistas chinesas e ao nosso código e conduta". Ele diz ainda que é errado que as agências de recrutamento participem dos salários dos trabalhadores, alegando que irá investigar essa prática. "Nós pagamos agências de recrutamento para a segurança social dos trabalhadores. Realizaremos auditorias periódicas de agências para verificar se fornecem seguro e, as que não cumprirem, serão penalizadas."
Já a Apple afirmou em comunicado que está "empenhada em proporcionar condições de trabalho justas e seguras em toda a cadeia de fornecimento". A fabricante declarou ainda ter realizado 15 auditorias abrangentes em instalações da Pegatron desde 2007, incluindo visitas surpresa nos últimos 18 meses e disse que vai investigar as alegações da ONG e tomar as medidas necessárias.
A Foxconn, fabricante chinesa de produtos eletrônicos em regime de terceirização e principal fornecedora da Apple, é alvo constante de reclamações de más condições de trabalho em suas fábricas. Em janeiro, a companhia passou por nova greve em uma de suas fábricas por problemas no ambiente de trabalho. Após os constantes relatos de jornadas abusivas e condições de trabalho inadequadas, a fabricante passou por uma vistoria em três fábricas, feita pela Fair Labor Association (FLA), ONG internacional de proteção ao trabalhador, que detectou inúmeras infrações e determinou que a Foxconn modificasse as condições de trabalho. Meses depois, a FLA reconheceu o cumprimento de 284 recomendações feitas à fabricante chinesa, e traçou outras 76 ações adicionais que devem ser neste mês.