Ao redor do mundo, as cidades estão se tornando cada vez mais digitais. Mas o que é, de fato, uma cidade inteligente e o que fazer para construir uma?
O principal impulso para o desenvolvimento de uma cidade inteligente é a rápida migração para as áreas urbanas que ocorre no mundo todo. A ONU estima que em 2045, cerca de 6 bilhões de pessoas viverão em cidades, contra 3,9 bilhões em 2014. Isto cria uma pressão na infraestrutura e nos serviços, incluindo sistemas de transportes, saúde e educação, e gera maior demanda por recursos como energia e conectividade.
O principal objetivo do movimento de cidades inteligentes é aumentar a prosperidade ao fazer as cidades mais eficientes, mais sustentáveis e com menor custo de funcionamento – e este é um movimento que vem ganhando força. Em janeiro de 2015, o relatório sobre mercados atuais e perspectivas para o futuro indica que o valor acumulado global do mercado de cidades inteligentes nos próximos 20 anos será entre US$ 30 e US$ 40 trilhões.
Mas o que é uma cidade inteligente? De acordo com a definição de 2011 do Gartner, "uma cidade inteligente é baseada em trocas inteligentes de informação, que flui entre vários subsistemas diferentes. Este fluxo de informação é analisado e traduzido em serviços comerciais e para o cidadão. A cidade agirá sobre este fluxo de informação para tornar todo o seu ecossistema mais eficiente no uso de recursos e mais sustentável."
O Poder das Pessoas
Atualmente, a cidade inteligente número um no mundo é Barcelona, de acordo com a Juniper Research, que analisou uma série de métricas de energia, gestão de tráfego e iluminação pública para elaborar o ranking. Nova Iorque é a segunda, Londres a terceira, Nice e Singapura aparecem em quarto e quinto lugares.
Apesar de não ter o mesmo porte, e nem o perfil internacional de Barcelona, a cidade brasileira Águas de São Pedro, no estado de São Paulo, poderia ser considerada uma das cidades mais inteligentes do planeta já que faz parte de um projeto mais amplo, capitaneado pela VIVO, dentro do conceito mais amplo de Smart City.
A infraestrutura é a base e o projeto começou por ela. Toda a infraestrutura de comunicação existente em Águas de São Pedro foi substituída por fibra óptica, que pode suportar banda larga de mais de 25Mbps, e a nova rede 4G provê acesso de alta velocidade para uma série de serviços online ou na nuvem. O princípio foi analisar quais os serviços digitais que poderiam ser mais uteis para a cidade e, a partir daí, decidiu-se por trabalhar a mobilidade, a iluminação inteligente, a educação e a saúde. Nestas áreas, a prefeitura e os gestores públicos concordaram sobre o que era mais necessário para a cidade e quais principais problemas que precisavam ser resolvidos. A melhor infraestrutura também tornou possível beneficiar as pequenas e médias empresas utilizando tecnologias como VPN IP (IP-based Virtual Private Networks).
União pela abertura
Águas de São Pedro tem uma população de 3 mil habitantes. Há quase 20 mil Km dali, Ningbo, uma cidade na costa leste da China, tem uma população de 1,5 milhão de habitantes e é, também, uma cidade inteligente. A ZTE, uma provedora de redes e equipamentos de telecomunicações chinesa, vem trabalhando com as autoridades locais para prover plataformas multiconectadas de big data e computação na nuvem gerando e processando de maneira aberta, em tempo real, informações de diversas fontes do governo e da iniciativa privada.
Os cidadãos de Ningbo podem baixar um aplicativo que dá acesso a uma variedade de serviços da cidade inteligente. Por exemplo, fornece informação sobre transporte para aqueles que estão usando o aplicativo, e que chegam a economizar, em média, cerca de 10 minutos esperando o horário de uma linha especifica de ônibus (em um trajeto de 50 minutos). Ou ainda economizar 15 minutos ao procurar uma vaga de estacionamento no centro da cidade.
A ZTE incentivou os usuários a contribuírem não apenas compartilhando suas experiências e comentários, mas também informação sobre diversos aspectos que eles encontram na cidade. Este fato combinado com os dados de localização e as coordenadas do GPS em tempo real, permitiu a companhia fornecer melhor serviço no fluxo de informações para os cidadãos, diminuindo o tempo de espera em cruzamentos e o numero médio de acidentes.
Já em Águas de São Pedro, as autoridades utilizaram uma grande variedade de dados, incluindo tráfego e segurança da informação que estavam disponíveis para o publico, organizaram maratonas de programação, conhecidas como hackathons, para promover o desenvolvimento de aplicativos baseados nestes dados. Cidades como Nova Iorque, Chicago e Londres também estão compartilhando dados em categorias como saúde, criminalidade, empregos, emissões de carbono e conectividade, com desenvolvedores para estimular o desenvolvimento de soluções para problemas já existentes e criação de novos serviços.
O time do projeto Catalyst Águas de São Pedro trabalhou muito próximo a outra cidade inteligente brasileira, Porto Alegre, para ter certeza que estavam no caminho certo. A cidade tem uma população de mais de 1,4 milhão de habitantes e adota uma forma interessante, de baixo para cima, para desenvolver a cidade inteligente. Os dados de agências do Governo sobre estacionamento, tráfego, energia, entre outros, são tornados públicos e os hackathons são organizados regularmente (uma ou duas vezes por ano), para o desenvolvimento rápido de aplicativos baseados em dados abertos. Várias iniciativas nas escolas incentivam a participação dos alunos, e 14 aplicativos já estão sendo usados pela população.
Parceiros Inteligentes
A implementação de cidades inteligentes depende de como são endereçados os processos para solução de problemas reais. A evolução deste processo tem impacto no ecossistema e nas parcerias que compreendem uma Cidade Inteligente. Construir cidades inteligentes requer uma grande quantidade de empresas trabalhando em conjunto. Isso resulta em parcerias complexas e multicamadas, e os modelos de implementação para cada uma delas.
O projeto "Catalyst Smart City" do TM Fórum, que é liderado pelo brasileiro Washington Tavares, gerente de Marketing da ISPM, explora principalmente as questões relacionadas às parcerias envolvidas na implementação. Os projetos de cidades inteligentes tem um escopo amplo e complexo, e a responsabilidade é um fator crítico para que os principais processos que envolvem dados, aplicações e gestão de APIs sejam bem compreendidos pelos parceiros em uma linguagem comum de implementação. Os projetos "Catalysts Smart City" são parte de um processo de colaboração para alinhar as necessidades do perfil da cidade com processos padrões do modelo do TM Fórum.
Os projetos de cidades inteligentes requerem processos padronizados porque para criar mais cidades inteligentes no futuro, tais processos devem ser replicáveis e escalonáveis. E os modelos propostos pelo TM Fórum oferecem metodologia e estrutura efetivas para determinar quais são estes processos.
Segundo Tavares, da ISPM, no caso de Águas de São Pedro, a primeira tarefa foi identificar os problemas que precisavam ser solucionados e os elementos requeridos. A cidade deve ter uma plataforma e um ambiente adequado para suportar o ecossistema que envolve todos os serviços digitais e desenvolvimento de aplicações. Esta plataforma é a fundação para construir todo o processo, mas também é vital um ágil processo de construção para que as funcionalidades inteligentes possam evoluir rapidamente a partir de uma série de pequenas iniciativas.
A plataforma estabelece um mapa dos processos operacionais mas como fazer a gestão da cidade? E o controle dos processos e a oferta de serviços aos cidadãos? Estas são apenas algumas perguntas que serão discutidas na próxima edição do TM Fórum, em Nice, na França, no mês de junho.
Qual o impacto?
Como um exemplo do impacto das iniciativas em cidades inteligentes, um estudo da Juniper Research prevê que entre 2014 e 2019 as iniciativas de gestão de tráfego e estacionamento reduzirão as emissões de CO2 em 164 MMT (milhões de toneladas métricas) ao redor do mundo. Isto equivale a emissão anual de 35 milhões de carros. Em 2019, haverá cerca de 700 milhões de carros nas ruas das cidades, e mesmo que as emissões de veículos não desapareçam completamente, o efeito deve ser positivo para os moradores das cidades.
Enfim, o movimento das cidades inteligentes tem como objetivo central melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem nas cidades pois, certamente, os cidadãos merecem um lugar melhor para viver.
Lisa Hughes, editora no TM Fórum.
É o início de um debate interessante. Vamos pesquisar mais sobre este tema.